Research - (2020) Volume 15, Issue 2
MOTIVOS PARA A PRATICA DE ESPORTE EM ESCOLARES UMA REVISAO NARRATIVA
Guilherme Alves Grubertt**Correspondence: Guilherme Alves Grubertt, Physical Education, Federal Institute of Education, Science and Technology of Mato Grosso do Sul, José Tadao Arima, 222, 79200-000, Aquidauana, Brazil, Email:
Abstract
Este estudio investiga el estado del arte de artículos sobre motivos de participación deportiva de atletas jóvenes publicados en las bases de datos Medline (PUBMED), Web of Science, Scopus, SPORTDiscus, LILACS y Scielo entre los años 1997 y 2017. Los análisis tuvo en cuenta revistas, año de publicación, país donde se realizó el estudio y característica metodológica. El diagrama de flujo PRISMA se usó como una guía para todas las etapas del proceso de selección. Después de la exclusión de los artículos que no contemplan el alcance de esta revisión narrativa, se seleccionaron 21 artículos para el análisis de las variables indicadas para la caracterización de este estudio. Se observó un aumento significativo en las publicaciones del año 2012. Con base en los resultados de los artículos seleccionados, es posible enfatizar que los motivos de participación deportiva de los atletas jóvenes es una consecuencia de la combinación de varios factores ambientales, sociales e individuales. En el período determinado para la realización de este trabajo solo se encontraron dos artículos con diseño longitudinal. Hay una falta de estudios con diseño longitudinal. Sería importante realizar estudios longitudinales asociados con los motivos de participación deportiva de atletas jóvenes para seguir los cambios que pueden ocurrir en la atribución de importancia de los motivos, ya que la adolescencia se caracteriza por ser un período de transición multifactorial.
Palabras Clave
Esporte, motivação, jovem atleta
Introducción
O estudo sobre o que leva as pessoas a praticarem atividade física e de esporte, iniciado no final da década de 70 (Alderman & Wood, 1976; Alderman, 1976) tem sido considerado uma área fundamental da psicologia do esporte. Atualmente, novas perspectivas para a atividade física e o esporte, como aderência, adesão, prevalência, continuidade, bem estar físico e mental, entre outras temáticas têm justificado a importância do estudo da motivação.
A motivação tem sido investigada de várias maneiras por pesquisadores das diferentes ciências em diversos países (Allen, 2003; Erdoğdu, Faruk Şirin, İnce & Öçalan, 2014; Kondric, Sindik, Furjan-Mandic & Schiefler, 2013; Sirard, Pfeiffer & Pate, 2006). A comprovação disso são os estudos pioneiros responsáveis pela diferenciação entre motivo e motivação (Hunter, 1976; Murray, 1993; Thomas, 1983). Ao considerar essa temática na prática de esportes, Thomas (1983) defende o esclarecimento dessas expressões bastante semelhantes, porém, com conceitos divergentes.
No contexto epistemológico, motivo é oriundo do vocábulo em latim motivus, enquanto motivação é derivada de motus, verbo conjugado no particípio passado de movere, que retrata a ideia de movimento. Sendo assim, motivos seriam as razões e propósitos que impelem o indivíduo a agir de determinada maneira. Ao passo que motivação está associada aos estímulos e sentimentos que levam alguém a praticar os motivos selecionados para alcançar determinado objetivo. Os motivos são elementos direcionais do comportamento em questão, ou seja, um enfoque relevante da motivação, mas não a própria motivação (Schunk, Meece & Pintrich, 2014).
No cenário da psicologia do esporte, o direcionamento mais aceito por especialistas é o modelo interacional da motivação para a prática esportiva. De acordo com essa visão, a motivação para a prática esportiva é subordinada a interação entre a personalidade (fatores pessoais) e a fatores do meio ambiente (fatores situacionais). Os componentes dos fatores pessoais são representados pela personalidade, necessidades, interesses e objetivos. Por outro lado, os elementos dos fatores situacionais relacionam-se com estilo do líder-técnico, atratividade das instalações, histórico de vitórias e derrotas da equipe (Weinberg & Gould, 2017). Conforme Weinberg, Gould, Monteiro & De Rose Junior (2008) a importância dos fatores pessoais e situacionais pode ser alterada no decorrer da vida de acordo com as necessidades e oportunidades atuais.
De modo geral, a motivação é analisada basicamente por uma junção de teorias. Nessa perspectiva, são constatadas na literatura mais de 30 opções de teorias de motivação que procuram explicar os princípios norteadores que regem o perfil motivacional que alguém possa apresentar para aderir e/ou se manter em uma atividade específica. Em suma, as teorias baseiamse em um espectro que varia desde modelos que atribuem ao indivíduo posição mecanicista como a de um ser passivo sujeito às influencias do meio, até modelos em uma ótica cognitiva-social que destacam a função ativa do individuo como agente da ação através da interpretação subjetiva do contexto de execução (Gill, Williams, & Reifsteck, 2017).
Entretanto, ainda há duas teorias de motivação consideradas referenciais teóricos para o estudo dos fatores motivacionais para a prática esportiva: a teoria das metas de realização - achievement goal theory (Nicholls, 1984) e a teoria da autodeterminação - self-determination theory (Ryan & Deci, 2000). Ambas as teorias têm sido utilizadas para uma compreensão mais detalhada dos fatores motivacionais no contexto da educação física e do esporte.
Originalmente desenvolvida para o contexto escolar, a teoria da realização de metas é baseada na interpretação subjetiva do sucesso, sendo aplicada em duas perspectivas denominadas orientação para a tarefa e orientação para o ego (Nicholls, 1984). Na ótica da orientação para a tarefa, a tendência para a definição e interpretação do sucesso e da competência é referenciada pelo próprio indivíduo. Por outro lado, a orientação para o ego pressupõe que a competência e o sucesso do indivíduo são associados ao desempenho visando uma demonstração de capacidade superior.
A teoria da autodeterminação é uma abordagem organicista da motivação, ou seja, realça a interação entre uma pessoa e o ambiente buscando a evolução de recursos internos pessoais visando o desenvolvimento da personalidade e autorregulação comportamental (Ryan & Deci, 2000). De acordo com essa teoria, a motivação é categorizada em intrínseca, extrínseca e amotivação. Esses diferentes tipos de motivação se organizam na forma de um continuum, onde o nível de autonomia diminui quando direcionado no sentido da motivação intrínseca para a amotivação.
Geralmente, a prática de atividade física para a população infantil inicia-se no ambiente escolar. Caracterizada não apenas pelas aulas práticas de Educação Física, onde são enfatizados aspectos lúdicos, mas também pela prática organizada e sistematizada do treinamento esportivo. Para a maior parte das crianças, a prática de esportes atinge o seu auge aproximadamente aos 12 anos de idade (Gill, Williams, & Reifsteck, 2017). Nessa perspectiva, estudos prévios apontam que apenas uma parcela da população infantil e juvenil pratica esporte com alguma regularidade, e dentre aqueles que iniciam a prática esportiva, há um elevado índice de casos de abandono (Capranica & Millard-Stafford, 2011; Delorme, Chalabaev & Raspaud, 2011; Jõesaar & Hein, 2011).
Há pouca atenção dada ao evento de definição do atleta escolar. Logo, é importante a apresentação dos aspectos que contextualizam essa população. O atleta escolar pode ser caracterizado pelas duas atribuições sociais vinculadas ao próprio indivíduo. Conforme Conceição (2015) essas atribuições envolvem dois campos: a escola e o esporte. Ambas demandam atitudes e comportamentos reconhecidos por cada uma das insituições que representam (escolas e clubes). A união desses campos resulta na intersecção de dois cenários que possuem um objetivo em comum: Possibilidades de um futuro promissor, pois o desenvolvimento do jovem como cidadão e futuro profissional está diretamente associado ao amparo realizado por esses dois cenários.
Uma problemática de grande importância para os profissionais que trabalham com a questão da participação esportiva em idades jovens, é a compreensão dos motivos que fazem as crianças e adolescentes participarem de modalidades de esporte. Grande parte da população tem uma visão hierárquica da psicologia do esporte, algo que se aplica prioritariamente a atletas de elite. Contudo, os jovens compreendem a maior população de praticantes de esportes, e como já elucidado anteriormente, desde a década de 1970 estudiosos desta área tem dedicado sua atenção à análise de aspectos psicológicos relevantes para a participação dos jovens no esporte.
A literatura científica, via pesquisas em psicologia do desenvolvimento, aponta que por volta dos 12 anos de idade é um período crítico para as crianças, com importantes consequências no desenvolvimento social e autoestima. Sendo assim, a experiência esportiva das crianças é percebida de maneira positiva entre a população devido ao fato de as crianças receberem valores sociais e psicológicos em detrimento de sua participação (Weinberg et al., 2008).
A relevância do estudo dos motivos para a prática de esporte em idades jovens é justificada baseada na hipótese científica a qual indica que a infância e a adolescência são períodos críticos para iniciar ou até mesmo abadonar a participação em programas regulares de esporte, pois as duas atitudes podem repercurtir no nível de atividade física em idades futuras (Sirard, Pfeiffer & Pate, 2006). Considerando esse panorama, a presente revisão teve como objetivo analisar a produção intelectual em artigos científicos na área de conhecimento da saúde, realizando um recorte teórico-metodológico sobre os motivos para prática de esporte em idades jovens, tal como a disseminação desta expertise no período de 1997-2017.
Método
Trata-se de uma revisão narrativa a respeito do tema, ou seja, uma descrição do estado da arte dos motivos para a prática de esporte em idades jovens. Em geral, pesquisas sobre o estado da arte destacam-se pela análise da produção acadêmica em determinada área e em um intervalo de tempo estabelecido que difundam temas, objetos, metodologias, tipos de pesquisa, dentre outros. Em suma, em uma revisão narrativa está presente a possibilidade de contribuir com a teoria e prática de uma área de conhecimento, além de proporcionar um panorama sobre o fenômeno abordado a partir da respectiva disseminação científica que o tema percorreu durante o período histórico analisado (Rother, 2007).
As bases de dados eletrônicas foram selecionadas conforme a área de conhecimento (área da saúde). Dessa maneira, foram utilizadas Medline (PUBMED), Web of Science, Scopus, SPORTDiscus, além das bases latinoamericanas LILACS e Scielo. Para o método de busca foram adotados como descritores os termos sugeridos no Medical Subject Headings (MeSH) e seus homólogos: “Motivation”, “Motives”, “Sports”, “Sport”, “Athletics”, “Athletic”, “Child”, “Children”, “Adolescent”. Todas as estratégias de busca foram desenvolvidas no mês de janeiro de 2018.
Os critérios de elegibilidade dos artigos consideraram inicialmente: Artigos originais, terem como objetivo principal o estudo dos motivos para a prática de esporte, pertencerem à amostra indivíduos em idade escolar, as populações analisadas serem consideradas capazes de responderem o questionário, estarem publicados nos idiomas inglês, espanhol e/ou português, tendo limite de data de publicação entre os anos de 1997 e 2017. O PRISMA FlowDiagram (Liberati et al., 2009) foi utilizado como norteador para todas as etapas do processo, como apresentado na Figura 1.
Durante a análise dos trabalhos iniciou-se a leitura dos títulos, seguida da leitura dos resumos e, posteriormente, dos textos na íntegra dos artigos selecionados nas fases anteriores. A seleção e análise dos estudos foram executadas por três avaliadores de modo independente e, ocorrendo divergências entre os membros, foi consultado um quarto avaliador a fim de decidir sobre a manutenção (inserção/exclusão) de estudos na presente revisão. Para cada trabalho selecionado foram extraídas as informações referidas das seguintes variáveis: País em que foi desenvolvido o estudo, características metodológicas, revista em que foi publicado, ano de publicação e principais resultados.
Resultados E Discussão
Após a exclusão dos artigos que não contemplaram o escopo desta revisão narrativa, foram selecionados 21 artigos para análise das variáveis indicadas para a caracterização deste estudo. Cabe salientar que apenas um artigo foi identificado por outras fontes de registro adicional (PsycInfo) e foi selecionado. Muitos trabalhos publicados no período estipulado (1997-2017) investigaram os motivos para a prática de atividade física e esportiva. É importante destacar que os trabalhos selecionados enfatizaram a investigação apenas dos motivos para a prática de esporte associados às diversas covariáveis como indicadores socioeconômicos, escolaridade dos pais, dentre outras.
Apesar de se mostrarem semelhantes e apresentarem elementos em comum, o significado dos motivos para a prática de esporte não deve ser identificado de maneira idêntica a motivação. Por conseguinte, o conceito associado ao motivo é resultante de um processo mental, assumindo concepções individuais estabelecidas a partir de aprendizagens e experiencias acumuladas, baseado no contexto sociocultural que o indivíduo está inserido. Em contrapartida, motivação é um processo direcionado a possível compreensão e intervenção na definição dos motivos (Gill, Williams, & Reifsteck, 2017).
Portanto, os motivos são respostas diretamente ligadas às razões que levam alguém a realizar uma tarefa em particular ou assumir determinado comportamento, e para a realização destes aspectos devem ser consideradas construções hipotéticas determinadas por expectativas aprendidas mediantes experiencias acumuladas ao longo do tempo. Diante do exposto, para compor o conjunto de trabalhos que integram esta revisão optou-se pela escolha do conceito esclarecido acima.
A tabela 1 resume as informações extraídas dos 21 artigos selecionados para esta revisão narrativa. Um dos principais elementos diferenciadores dos motivos para a prática de esporte em idades jovens identificado no presente estudo foi o âmbito de prática. Neste caso, esportes de competição no âmbito escolar e de clubes esportivos prevaleceram. Contudo, não há uma padronização entre os artigos analisados sobre a terminologia para identificar o praticante de esporte em idade escolar. Foram apontadas diversas expressões em vários contextos com o intuito de caracterizar esta prática em idades jovens, como, por exemplo: “School sports”, “young athletes”, “student athletes”, “junior athletes”,”high school sports”, “sports students”, “young competitive athletes”, “sports for children and adolescents”.
Existe uma prática intensa de esportes organizados em idades jovens, em média, participam do seu esporte específico 11 horas por semana numa temporada de 18 semanas (Gould & Martens, 1979). O esporte é um dos campos na vida infantil na qual as crianças podem participar intensamente de uma atividade cuja possui desfechos significativos para eles, seus amigos, família, bem como para a comunidade. A experiencia no contexto esportivo de crianças pode ter efeitos extremamente valiosos para toda a vida sobre a personalidade e desenvolvimento psicológico.
Cabe salientar que todos os artigos selecionados englobam a prática sistematizada e organizada de esporte no contexto escolar em ambos os sexos. As variáveis que se modificam dentre os artigos que compõem este estudo são: o tempo de participação no âmbito da prática organizada de esporte (que pode variar entre 1 e 10 anos) e a condição dos sujeitos participantes dos estudos no que diz respeito ao pertencimento de federações esportivas.
Os estudos analisados indicaram que os motivos que as crianças têm para praticar esportes (ou seja, divertir-se, fazer algo no qual são boas, estabelecer novas amizades, manter o condicionamento, ter sucesso, fazer exercícios, aprender novas habilidades) é proveniente de uma perspectiva intrínseca. Além disso, a maioria dos atletas em idades jovens revelou várias razões para praticar esportes, não um único motivo.
Outro motivo de natureza intrínseca que também está associado à desistência do esporte é a necessidade de o jovem se sentir importante e competente. Segundo Weinberg & Gould (2017), quando atletas jovens se sentem relevantes na sua atividade, a tendência é participar. Caso não se sentem confiantes no desempenho de suas habilidades, tendem a desistir. Ademais, os jovens possuem mais probabilidade de envolvimento no esporte quando suas necessidades de relacionamento são atendidas no ambiente esportivo.
Apesar da pluridade constatada a respeito do instrumento de medida utilizado nos artigos que compreendem esta revisão narrativa, destaca-se maior prevalência do uso do Participation Motivation Questionnarie - PMQ. Dos 21 artigos selecionados, 39% utilizaram este instrumento. Apesar de sua origem ser no início do ano de 1980 (GILL; GROSS; HUDDLESTON, 1983), na linha temporal deste trabalho, o primeiro estudo que aplicou este construto foi publicado no ano de 2006. Fato que pode explicar o intervalo temporal entre a origem do PMQ e a primeira aparição nesta revisão narrativa, e a diversidade na utilização de intrumentos de medida é a multiplicidade de países em que os estudos foram elaborados, interligando continentes como Europa, América do Sul, América do Norte e Ásia.
Apesar da predomínio do construto, é adequado identificar a prática profissional e a situação de pesquisa da área, principalmente para o desenvolvimentos de novos instrumentos e para busca de novas evidências científicas de validade, visto que, em pesquisas não serão emitidos laudos ou pareceres fundamentados nessas aplicações. Assim, novas investigações devem ser desenvolvidas com o intuito de elaboração de novos construtos e testes, enfatizando as particularidades de cada modalidade esportiva, bem como nível de desempenho, faixa etária específica, entre outras.
Considerando os intrumentos de medidas constatados nos trabalhos selecionados, cabe salientar que pesquisadores e profissionais da área da psicologia do esporte estão utilizando medidas psicofisiológicas (mensuração de pressão arterial, da frequência cardíaca, do cortisol salivar, entre outras) pois são exequíveis por não haver restrições aos profissionais de educação física e apresentam correlações significativas quando comparados com outros questionários ou inventários (Cruz, Casa Júnior & Vieira, 2013).
No que tange o delineamento dos estudos, apenas dois artigos (Dawes, Vest & Simpkins, 2014; Madigan, Stoeber & Passfield, 2016) utilizaram metodologia de característica longitudinal. Devido essa escassez, é extremamente importante a realização de estudos associados a esta temática configurados pelo delineamento longitudinal. Assim, o acompanhamento dos motivos indicados no decorrer da idade escolar pode propiciar uma compreensão mais efetiva quanto à subjetiva transição dos atletas escolares pelos diferentes motivos apontados.
A literatura tem apontado que o acompanhamento longitudinal perante esta temática tem mostrado que motivos associados às dimensões intrínsecas são mais efetivos e susceptíveis a serem mantidos por tempo mais longo (Vierling, Standage, & Treasure, 2007) Portanto, os jovens motivados intrinsicamente para a prática de esporte podem apresentar maior possibilidade de adesão que os jovens motivados por dimensões externas.
Chama-se atenção para a necessidade de futuras investigações com o delineamento longitudinal devido às suas vantagens na tentativa de obtenção do resultado de melhor compreensão no contexto da interação de faixa etária, sexo e nível de desempenho nos motivos para a prática de esporte em etapas específicas da carreira esportiva dos jovens atletas. Outra vantagem deste tipo de delinemanto é a tentativa de chegar a um melhor entendimento das implicações que podem interferir, direta e indiretamente, na seleção dos motivos e na definição do perfil de motivação para a prática de esporte.
Quanto ao ano de publicação houve um crescimento exponencial de publicações a partir de 2012. Outra caractetística identificada a partir do ano de 2012 foi a quantidade amostral dos trabalhos, apresentando um quantitativo aproximado da escala de 1000 indivíduos participantes dos estudos (Dawes, Vest & Simpkins, 2014; Guedes & Netto, 2013; Januário, Colaço, Rosado, Ferreira & Gil, 2012; Soares, Antunnes & Tillaar, 2013).
A fim de salientar o espectro ano de publicação, é interessante ressaltar que a psicologia do esporte está mais popular do que em outros tempos. Conforme Weinberg & Gould (2017) é um erro pensar que a psicologia do esporte se desenvolveu apenas recentemente. Os autores ainda indicam que a história da psicologia do esporte é dividida em seis períodos. O contexto histórico o qual a metodologia proposta nesta revisão encontra-se é denominado psicologia contemporânea do esporte e do exercício, sendo o sexto período. E este também é caracterizado pelo reconhecimento e regulamentação da psicologia do esporte no Brasil.
Esse reconhecimento tardio evidencia que o crescimento da psicologia do esporte no Brasil que ocorre de maneira semelhante ao cenário dos trabalhos selecionados nesta revisão, de maneira emergente. Um estudo sobre o estado da arte da psicologia do esporte no Brasil identificou uma frequencia maior de pesquisas com foco na motivação para o esporte e exercício físico, e também uma preocupação com a participação de crianças no contexto esportivo. Corroborando com essas informações, foi verificadoa uma prevalência de temáticas de natureza teórico-empírica, e a motivação foi um dos objetos de estudo mais recorrente (Vieira, Roberto, Junior, & Lopes, 2013).
Foi encontrado apenas um estudo com um quantitativo amostral consideravelmente elevado, relatando um tamanho amostral de exatamente 9018 indivíduos (Kopcakova et al., 2015). O tamanho amostral de investigações que envolvem questionários possui vantagens quando ele é consideravelmente elevado, assim como identificado em poucos casos neste revisão. Além de aumentar a chance de validade externa e interna do estudo e a precisão do resultado, o tamanho amostral elevado favorece análises estatísticas mais complexas e agrupamentos.
Baseado nos resultados dos artigos selecionados, os motivos para a prática de esporte em idades jovens pode ser consequencia de uma combinação de diversos fatores ambientais, sociais e individuais. Uma vez que os artigos selecionados possuem origem em diversas regiões do mundo. Por exemplo, a baixa motivação geralmente resulta de uma combinação de fatores pessoais e situacionais. Dessa maneira, pode ser mais fácil mudar a situação ou elaborar determinado tipo de ambiente do que mudar as necessidades e as personalidades dos participantes.
Além desta visão interacional, a ênfase cultural pode afetar os motivos para a prática de esporte. Por exemplo, Yan & McCullagh (2004) verificaram uma diferença nos motivos para a prática de esporte entre jovens do ensino médio norte-americanos, sino-americanos e chineses. De modo que os jovens norteamericanos eram motivados pela competição e necessidade de aprimorar habilidades técnicas, os jovens sino-americanos eram mais motivados por causa das viagens, do uso de equipamentos e do divertimento. Já os chineses eram motivados pela associação e pelo bem-estar.
Diante do exposto, pesquisadores e profissionais da área devem se habituar com as diferenças culturais e reconhecer essas diferenças de motivação entre os participantes, pois há uma crescente diversidade cultural na maioria das sociedades contemporâneas. Sendo assim, podemos concluir que os motivos para a prática esportiva no contexto escolar também são resultado de fatores culturais.
Em síntese, a maioria dos jovens participantes dos estudos selecionados revelou que a competência técnica foi o motivo primordial para a prática de esporte. Este desfecho está diretamente associado ao fato dos participantes estarem inseridos no ambiente esportivo competitivo do contexto escolar e clubes de treinamentos sistematizados. Subjacente às razões descritivas para o abandono da prática de esporte (tal como a ausência de diversão) encontrase a necessidade do jovem se sentir competente, consequentemente, importante. Quando os atletas em idades jovens se sentem competentes em sua atividade, a chance de adesão presente e futura à prática de esporte é elevada.
Conclusões
Esta revisão compilou informações sobre a produção científica dos trabalhos relacionados aos motivos para prática de esporte em idades jovens, analisando periódicos, ano de publicação, país em que foi desenvolvido, características metodológicas e principais resultados. A síntese das informações designadas é descritiva e discutida de maneira reflexiva fundamentada em outras investigações relevantes da área proporcionando um parâmetro da temática durante o período de 1997-2017.
Pelo fato deste tema ser investigado por diversos países há alguns anos, podemos concluir que o assunto é relevante para comunidade científica. Além disso, é possível atribuir essa importância a aplicação prática destas pesquisas. Visto que, em posse dos resultados é possível adaptar o ambiente de prática esportiva e o próprio sistema de treino do jovem, permitindo melhor adaptação e favorecendo a iniciação e manutenção do mesmo nesta prática sistematizada. Dessa maneira, a possibilidade de evasão do ambiente esportivo é reduzida.
Uma das limitações desta revisão é a seleção de artigos pela temática “motivos para a prática de esporte em idades jovens”. Essa escolha, esclarecida na discussão da presente revisão, limitou o número de trabalhos selecionados, restringindo assim, a possibilidade de resultados distintos em vários aspectos. Esse fato também se aplica para a terminologia do atleta em idade escolar, ainda há uma carência na definição dessa população específica e suas atribuições. Tal situação proporcionou resultados bastante distintos e interessantes para esta revisão.
Por fim, esta revisão narrativa pondera vários espectros do tema analisado, possibilitando uma aplicabilidade prática positiva perante a população infanto-juvenil, corroborando com uma das funções da psicologia do esporte e do exercício, que procura compreender e auxiliar atletas em qualquer nível de desempenho, seja física e/ou mentalmente incapacitados, geralmente, a alcançar o máximo de participação, satisfação pessoal e desenvolvimento mediantes as atividades. Assim, corroborando em implicações significativas na elaboração de programas esportivos seguros e psicologicamente saudáveis para a população jovem.
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